mineração

Amazonas prevê exportar terras raras em 2027 e refino futuro em Manaus

Mineradora australiana BBX iniciou processo de licenciamento nesta semana. Plano é exportar para Estados Unidos, China e Europa

Waldick Junior
06/12/2025 às 09:39.
Atualizado em 06/12/2025 às 09:39

Técnicos da Agência Nacional de Mineração fizeram visita à sede da empresa, em Apuí, na quinta-feira (4), como parte da avaliação do Relatório Final de Pesquisa e da solicitação de Guia de Utilização (Foto: Divulgação)

Iniciou nesta semana o processo de licenciamento para que a mineradora BBX do Brasil, subsidiária da australiana BBX, exporte terras raras encontradas em Apuí, no sul do Amazonas. 

A operação tem início previsto para 2027 e expectativa de, pelo menos cinco anos depois, planejar um processo de refino em Manaus. O investimento inicial é previsto em R$ 200 milhões. Há conversas para compradores nos Estados Unidos, China, França e Espanha.

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a “indústria do futuro”. Elas estão presentes tanto na produção civil, em televisores, celulares e tecnologias de energia renovável, quanto em equipamentos militares, como drones e radares.

O interesse pelo tema explodiu neste ano, com a pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para negociar o acesso a essas terras no mundo em meio ao tarifaço que também atingiu o Brasil. A China, rival comercial dos norte-americanos, lidera a produção.

"O projeto iniciou no fim de 2022, após procurarmos analisar testemunhos antigos sobre pesquisas para ouro e lítio na região. Quando descobrimos a existência de valores de terras raras consideráveis no nosso perfil laterítico (de solo), nós iniciamos a campanha de pesquisa. Ao final de 2023, definimos, pelo menos, minério para mais de 50 anos", afirma o diretor técnico da BBX, Antônio de Castro.

A expectativa é que a fase de obras na implantação do projeto gere em torno de 500 empregos diretos. Durante a execução do empreendimento, a estimativa é de 200 empregos diretos e outros mil indiretos. 

A empresa também estima um faturamento de R$ 400 milhões por ano e R$ 8 milhões em impostos para a cidade de Apuí, valor que representa cerca de 10% da receita do município para 2025, de R$ 77,7 milhões.

Plano econômico

Antônio destaca que, apesar de o Brasil estar demonstrando cada vez mais interesse pelas terras raras, o país não é um comprador dos minérios. As conversas da BBX são para comercializar o produto (uma mistura de terras raras com carbonato) com companhias da China, Estados Unidos, França e Espanha. 

“A logística é sair de Apuí por rodovia federal até Porto Velho, onde o produto será colocado em contêineres que seguirão por barcaças ou balsas até portos em Manaus para posterior embarque para a Europa, Estados Unidos ou China por navios transoceânicos”, explica o diretor da empresa. 

Refino

Embora já houvesse uma grande demanda por terras raras no mundo, o grande desafio atual é o refino dos minérios, algo que é amplamente realizado pela China. Países como Estados Unidos, França, Japão, Austrália e Malásia têm desenvolvido projetos. 

No mês passado, o presidente Lula (PT) disse que a exploração de minerais raros no Brasil vai exigir a industrialização no país. “Nós não vamos ser exportadores dos minerais críticos. Se quiser, vai ter que industrializar o nosso país para que nosso país possa ganhar esse dinheiro”, afirmou.

O diretor da BBX diz entender que a fala do presidente brasileiro está alinhada à defesa dos países pela soberania no tema e que a empresa já planeja investir no refino, futuramente, após o início da exploração. A ideia é que esse processamento das terra raras aconteça em Manaus, mas o planejamento do projeto só deve se tornar prioridade após cerca de cinco anos do início da exploração, ou seja, a partir de 2032.

“Estamos nessa fase de produzir o carbonato e a segunda etapa  é uma possibilidade, sim, de processar o produto para um estágio de maior valor agregado, que seria levando ele, por exemplo, para um estágio de dióxido. Nesse estágio, você também ode separar alguns dos elementos para vender de forma separada”, afirma. 

Apresentação do projeto mostra áreas de interesse (coloridas) sobrepostas a cursos d’água

Impactos ambientais

Como toda mineração, a exploração de terras raras levanta preocupações sobre os possíveis impactos socioambientais associados. Essa atenção ganha ainda mais peso pelo fato de a atividade estar prevista para acontecer no sul do Amazonas, onde a pressão sobre a floresta já é intensa, especialmente pela atividade agropecuária.

Com a fase de licenciamento iniciada junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o projeto agora se debruçará sobre o alcance dos impactos ambientais e o plano para reduzi-los. Uma imagem de satélite das áreas de interesse para exploração mostra que o território corta mais de uma dezena de cursos d’água, por exemplo. 

Questionado sobre os possíveis danos ambientais, Antônio diz que o projeto optou por uma metodologia chamada ‘lixiviação direta’, utilizada na Ásia para empreendimentos com terras raras. A terra é irrigada com uma solução de água e magnésio que vai concentrando os minerais espalhados pelo solo e depois essa mistura é ‘sugada’ de volta com bombas e drenos laterais.

“Esse processo é feito em morro, uma parte alta, e são feitos vários furos horizontais, de modo que bloqueia toda a passagem da solução para a área externa de onde se está trabalhando. Como o impacto é mínimo, a gente nem consegue visualizá-lo. Se não fosse controlado, até poderia causar, mas não é o caso. Além disso, a solução de magnésio não é nociva ao meio ambiente como outros produtos”, argumenta. 

Apoio estadual

A exploração das terras raras no sul do estado tem recebido forte apoio do governo Wilson Lima (União Brasil), que vê na mineração um complemento econômico à Zona Franca de Manaus, apesar de haver maiores riscos ambientais. 

Em julho, a Secretaria Executiva de Mineração do governo do Amazonas (Semig) chegou a produzir uma nota técnica que coloca o Amazonas como o segundo estado brasileiro com mais reservas de terras raras identificadas, atrás apenas de Minas Gerais. Além de Apuí, há ocorrências conhecidas ou estimadas nos municípios de Presidente Figueiredo e São Gabriel da Cachoeira.

“É uma orientação do governador a gente acompanhar todo o investimento que vem para o estado do Amazonas, para ajudar o empreendedor, dentro do que pode ser ajudado, para que ele encontre um bom ambiente pra investir. E, especificamente nessa área de mineração, isso é um passo importante para o estado, porque temos um potencial incrível para terras raras”, afirma o titular da Semig, Ronney Peixoto.

Ele diz que o estado se interessou pelo projeto pela possibilidade de gerar empregos na região, além de contrapartidas socioeconômicas para o município. “Ela vai atuar na capacitação de pessoas, elevar o nível da renda e incrementar o PIB municipal”. 

O secretário também que o governo tem interesse em incentivar a companhia a industrializar o processo no estado. “Vamos tratar mais a frente sobre o desenvolvimento de tecnologia para que o beneficiamento desses minerais seja feito aqui”, diz.

Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2025Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por