Iniciativa celebra o legado do poeta amazonense com ações ao longo de 2026, reunindo autores, leitores e atividades que reafirmam a força da poesia na formação cultural do país
Poeta Thiago de Mello (Foto: André Argolo)
Memória e afeto compõem a essência da poesia de Thiago de Mello, que se mantém viva até os dias de hoje. E para celebrar o centenário do poeta amazonense (1926-2026), a editora Valer lançou esta semana uma programação que marca a data, com uma curadoria realizada pelo escritor Tenório Telles, além de anunciar oficialmente a primeira edição do Amazônia Festival de Poesia, que acontecerá em março de 2026.
A iniciativa celebra um dos nomes mais influentes da literatura latino-americana, cujas obras ultrapassaram fronteiras, foram traduzidas para mais de 30 idiomas e marcaram gerações de leitores. Ao apresentar a proposta, o editor e diretor da Valer, Isac Maciel, destacou que o centenário não será apenas um evento pontual, mas um movimento contínuo de celebração.
“Thiago é uma figura icônica nas artes, principalmente na poesia, e um dos autores mais importantes no catálogo da Editora Valer. Por isso, a Editora pensou uma série de atividades que têm início. O marco inicial é esse trabalho de hoje, anunciando para todo o ano de 2026, que é de fato o ano do centenário do Thiago. Teremos a participação de vários segmentos de escritores, de leitores, vai ter palestras. Será muito semelhante aos festivais de literatura que nós já promovemos, com a participação de escritores locais e de fora, e com o público geral, leitores, livros, lançamentos, as palestras”, destaca.
É a celebração da poesia. Para a coordenadora editorial da Valer, Neiza Teixeira, o centenário vai além da homenagem a um autor icônico, seguindo a linha editorial que permanece há mais de 30 anos no mercado.
“Temos uma proposta de transformação da humanidade, de transformação do homem. E fazemos isso por meio dos livros que publicados. Então nós temos o cuidado de publicar livros que sejam livros referenciais para o pensamento. Vamos celebrar o centenário Tiago de Mello. O propósito é celebrar a poesia, é trazer o povo para pensar, para refletir, para conversar sobre a poesia, sobre a humanidade”, contextualiza.
(Foto: Junio Matos)
Um poeta para o mundo
O escritor Tenório Telles é o curador do centenário. Fã e amigo pessoal do saudoso poeta, Tenório define a obra de trajetória de Thiago de Mello como pertencente não apenas ao Amazonas, mas ao mundo.
“O poeta Thiago de Mello tem uma importância muito grande para a Amazônia, para a América Latina, para o Brasil e para o mundo. Isso se deve principalmente ao fato de ele ter sido um poeta comprometido com alguns valores que continuam expressivos no nosso tempo. Ele foi um poeta comprometido com a liberdade, com a integração latino-americana, com o ser humano e com a possibilidade de construção de um mundo melhor”, diz.
Tenório ressaltou, ainda, o caráter formativo do festival. “Nós queremos com o festival integrar os poetas da Amazônia, mas queremos principalmente contribuir para formar novos leitores, educar as pessoas do sentido de valorizar a poesia como algo fundamental para as nossas vidas”, finaliza.
Inspiração que atravessa gerações
Poeta da nova geração, o escritor Pedro Calheiros reconhece que Thiago de Mello é inspiração e referência decisiva. Calheiros afirma que a poesia de Thiago de Mello atravessa fronteiras, barreiras do tempo e espaço.
“É um dos poucos escritores cuja obra ultrapassou o encontro das águas. Então, é de suma importância para os novos escritores, para como inspiração, e ele representa um grande pilar na nossa literatura. O meu pai, o escritor Francisco Calheiros, que também foi advogado, infelizmente nos deixou em 2020 por conta da Covid, teve essa influência do Thiago, porque quem conversa com o Thiago de Mello”, destaca.
O poeta que cantou a madrugada
Nascido em Barreirinha, amigo de Pablo Neruda, Cortázar, Borges e García Márquez — que o chamava de “guru grande” —, Thiago de Mello construiu uma obra marcada pelo lirismo, pela luta política, pela defesa da Amazônia e pelos afetos. Em 2021, a 34ª Bienal de São Paulo homenageou sua produção com o verso “Faz escuro, mas eu canto”, do poema Madrugada Camponesa, reafirmando sua força e atualidade.
Com a celebração que se estenderá por todo o ano de 2026, a Valer pretende reacender esse legado, aproximar novos leitores e reafirmar a poesia como espaço de encontro, reflexão e beleza — exatamente como o poeta defendia.