No que diz respeito à rodovia BR-319, é fundamental que a sociedade assuma, de fato, seu papel essencial no desenvolvimento
(Foto: Arquivo A CRÍTICA)
A afirmação do ministro dos Transportes, Renan Filho, de que a recuperação do famoso “trecho do meio” da rodovia BR-319 depende da implementação de um programa de governança é um balde de água fria na cabeça daqueles que esperavam o início das obras já no próximo ano. Isso porque um programa sério de governança não aparece da noite para o dia. São necessários estudos profundos sobre fauna, flora, sociedade e todos os demais fatores envolvidos em tema tão complexo. Exatamente por conta de tal complexidade, é razoável supor que tal programa não estará pronto em alguns poucos meses.
É fato que o Amazonas, e também Roraima, precisa da rodovia BR-319 plenamente trafegável durante o ano todo. A falta de consenso reside nos eventuais possíveis impactos ambientais que a obra traria. Nesse ponto, a divergência é enorme: os comedidos defendem que o empreendimento seja levado a cabo apenas quando forem definidos os mecanismos de proteção à fauna, à flora e às comunidades tradicionais, que abarcam indígenas e ribeirinhos. Por outro lado, os liberais defendem o início imediato das obras em nome do desenvolvimento nacional, custe o que custar. É evidente que tal debate carece de uma mediação adequada.
A ponderação inteligente entre os dois movimentos é item fundamental para o avanço real das discussões. Se o governo brasileiro mostrou disposição para discutir governança da rodovia BR-319, é bom que quaisquer movimentos, sejam de direita, de esquerda, de cima ou de baixo, contribuam positivamente para tal planejamento. Mesmo que seja apenas para depois ter argumentos e combater a eventual inação do Estado. Furtar-se ao debate por colisões ideológicas equivale a omitir-se e, por tabela, contribuir negativamente com o próprio País. Tal situação conflitaria com a bandeira do patriotismo, muito defraudada e excessivamente mal defendida nos últimos anos.
No que diz respeito à rodovia BR-319, é fundamental que a sociedade assuma, de fato, seu papel essencial no desenvolvimento. Essa intervenção social nos parece indispensável para a quebra de uma inércia que perdura há muitos anos. A plena recuperação da rodovia não é uma questão de esquerda ou direita, é uma necessidade imediata do País, e do Amazonas em especial. Precisa ser uma questão de Estado.