opinião

O Capitalismo Arco-íris

Marcas tem utilizado dessas narrativas de inclusão para vender mais, sem ter realmente uma forma de apoio concreta. Focam no consumismo, em vez de se concentrar no ativismo

Por Yan Bártholo
07/06/2024 às 18:55.
Atualizado em 07/06/2024 às 18:55

(Foto: Reprodução)

Estamos entrando no mês do orgulho LGBTQIA+ e, nesse momento, muitas marcas estão aproveitando o período para estampar seus comerciais e anúncios publicitários com as cores do arco-íris, levantando os olhares para as problemáticas que essas pessoas sofrem. Mas será que não valeria mais a pena trabalhar um sistema maior de inclusão durante todo o ano, do que concentrar esses esforços apenas durante o mês de junho? 

O mundo do marketing criou o termo Capitalismo Arco-íris, Capitalismo Rosa ou, em inglês, Pink Washing, para definir as atitudes das marcas que utilizam as lutas pelos direitos LGBTQIA+ como parte de suas estratégias de vendas, fazendo os consumidores pensarem que elas têm uma atitude inclusiva, mas por trás da máscara de bom samaritano, essas empresas estão mais interessadas em aumentar seus lucros do que realmente defender alguma causa.

Em resumo, as marcas utilizam dessas narrativas de inclusão para vender mais, sem ter realmente uma forma de apoio concreta. Focam no consumismo, em vez de se concentrar no ativismo. Afinal, essas pessoas ainda estarão lutando pelos seus direitos básicos de ir e vir, antes e depois do mês do orgulho. 

Apesar de tudo isso, ainda assim, podemos dizer que existe um benefício enorme no que essas marcas fazem. Apesar do oportunismo. Apesar do mau caratismo. Mesmo que isso possa ser uma atitude aproveitadora, essas campanhas publicitárias, anúncios, comerciais, ações de marketing, consequentemente, acabam dando maior visibilidade e reconhecimento aos direitos pelos quais a comunidade LGBTQIA+ luta todos os dias. E essa contribuição não deixa de ser válida. 

Em um mundo onde ainda existe tanto preconceito, sofrimento, discriminação e crimes de ódio contra esse público, onde o Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas LGBTQIA+, é fundamental dar visibilidade a esse tipo de problemática. Por mais capitalista que ela seja. 

Qualquer visibilidade massiva é válida, mas sempre podemos fazer mais. Temos o poder de diversificar as campanhas publicitárias, normalizando todos os tipos de casais durante todo o ano. Podemos defender políticas e práticas inclusivas dentro das empresas em que trabalhamos. Levantar conversas e debates internos sobre a discriminação e, principalmente, escutar quem sofre com esses problemas todos os dias. Nos últimos anos, muitas empresas vêm criando foros para essas discussões e até áreas novas de inclusão, mas sempre podemos fazer mais. 

O conhecimento ajuda a desenvolver empatia, a desafiar o preconceito e promover uma cultura muito mais inclusiva dentro do ambiente de trabalho. Essas pequenas práticas, além de nos fazerem ser melhores pessoas, aceitando e respeitando as diferenças, também são algumas das melhores maneiras de fazer com que uma empresa seja cada vez mais criativa e inovadora, em todos os sentidos.

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