Esse jornalismo cumpre função de porta-voz e defensor de um modelo que amarra países e povos em torno de seus interesses
(Raul Arboleda/AFP)
Os conglomerados de mídia demonstram neste momento o ponto em comum no tratamento a Venezuela: encurralar o poder e o país. Encurralado, assegurar o golpe e estabelecer o “consenso” legitimando-o como ato em “defesa da democracia” e do “povo venezuelano”.
A coincidência da linha editorial de meios de diferentes países na América do Sul, América do Norte ou de países da Europa é mais uma vez pauta de estudo sobre as cordas (ou moedas) que movimentam o jornalismo e de outros campos, da economia, da política, da geopolítica.
O mais recente ambiente de “guerra fria” neste Continente tendo a Venezuela como motivo tem braços longos movidos por países-potências cujos interesses nada têm a ver com o bem-viver dos venezuelanos e a estabilidade do país, dono das maiores reservas de petróleo do mundo. São 300,9 milhões de barris de reservas de petróleo bruto, (dados da PDVSA e da CIA).
Enquanto as potências lançam estratégias de jogos para amarrar em torno de seus interesses países e povos, esse jornalismo cumpre função de porta-voz e defensor desse modelo. Faz fluir as vozes dos que têm longo histórico de desprezo pela democracia e pela autonomia dos povos latino-americanos e de outras regiões. Constrói silêncios ou amenizações sobre o contínuo genocídio em Gaza. Amplia o espaço de projeção a supostos líderes de movimentos oposicionistas a serviço da agenda de interesse do capital e dos donos dele. Juan Guardió é exemplo.
Não se deve ignorar o volume do investimento feito pela ruptura da América Latina. E de novo fica a pergunta: Por que investir numa América Latina fragmentada, fragilizada, como parte disponível as ações do poder hegemônico do mundo?
As eleições na Venezuela e as reações escancaram a voracidade do movimento pela submissão de regiões e países a um comando único do jogo. Testam os governos latino-americanos, incluindo o Brasil que experimentou, em capítulo recente da história nacional, a condição de submisso e tenta no pós-governo entreguista desvencilhar-se das amarras criadas e seguir em liberdade.
A “crise da Venezuela”, como o jornalismo etiquetou, é crise há muito plantada por fazendeiros externos, como assim o fizeram no Brasil, em Colômbia, Bolívia, Equador, Peru...
A Venezuela está carregada de problemas graves. E ao país deveria ser assegurada a busca da resolução, da pacificação e do direito de se desenvolver enquanto nação, não de ser tratada como laboratório dos negócios das superpotências. O país foi submetido a longo período de sanções econômicas e políticas pelos governos dos EUA sobre as quais agências internacionais pouco se pronunciaram pelo fim desses impedimentos constituindo-se em outro consenso de apoio aos atos de punição de um país sobre outro país, como na relação senhor e escravo.