((Foto: Reprodução))
Por Myriam Scotti
Os espaços que ocupamos e os objetos que nos cercam costumam falar muito sobre nós. Com o passar dos anos, acumulamos coisas que nos trazem memórias de lugares, de pessoas, de datas e etc., as quais acabam ganhando nossa estima por também contarem nossa história. Se alguém me visita e observa o que está ao meu redor, não vai precisar trocar muitas palavras comigo para descobrir um bocado sobre mim.
No entanto, preciso ressaltar que nada será mais reveladora do que a estante do escritório, a qual adorna em suas prateleiras os livros do passado, do gerúndio e também do futuro, afinal há sempre mais por ser lido do que nossa capacidade comporta. Acredito que esses títulos entregam muito mais de mim do que qualquer conversa. Bastam alguns minutos para concluir que já fui do direito, que sou apaixonada pela literatura clássica e contemporânea e ando estudando filósofos, ensaístas e críticos literários.
Conforme fui amadurecendo, sendo mais dona dos meus desejos, os livros foram mudando: alguns se tornaram obsoletos, outros amor eterno e ainda houve os que, por não mais me representarem, passei adiante para que encontrassem uma nova estante, um novo leitor para suas páginas. Neste último ano e meio em casa, tenho tido a oportunidade de também estar mais dentro de mim. Vez ou outra ando arrumando os livros, os armários, as caixas esquecidas, que por me trazerem lembranças demais, faço questão de não abrir. Afinal, arrumar é um movimento de fora para dentro e nem sempre estamos dispostos a sentir a poeira levantar para nos soprar incômodos.
Dia desses, reencontrei um livro que conheci na adolescência, apresentado por meu pai – nem sei se ele ainda se lembra disso – mas é uma obra simples, de poucas páginas, embora traga uma porção de reflexões que foram importantes naquela fase em que pouco sabia sobre mim mesma. Depois continuei a ler outras obras do autor e por isso guardo um carinho especial pelo escritor americano Richard Bach e seu Fernão Capelo Gaivota.
Ao reabrir o livro, me transportei para 1998, época da alegria de ter passado no vestibular, da ansiedade com o novo amor e, claro, com o futuro que em breve iria experimentar. Há livros que, embora não sejam majestosos como Ulysses, de James Joyce ou Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, também marcam a vida da gente pelo momento que chegam até nós.
Você, caro leitor, lembra qual livro lhe marcou? Se quiser me contar, estou no instagram @myriamscotti_, vou adorar saber sobre seus encontros (e desencontros) com a literatura! Para concluir esse informal bate-papo, ouso aconselhar: não tema encarar suas poeiras! Às vezes elas trazem memórias afáveis de se revisitar, possibilitando-nos leveza. Até mês que vem!
Perfil
Myriam Scotti
É escritora, poeta e mestranda em literatura e crítica literária pela PUC-SP. Em abril, lançou seu novo romance “Terra Úmida”, vencedor do prêmio literário de Manaus 2020.