A cultura volta aos palcos, porém agora dos poderes legislativos de nossa cidade. Representantes públicos atacam a cultura sem nenhum embasamento, sem conhecer seus profissionais e sua cadeia econômica
Por João Fernandes*
Especial para A CRÍTICA
Lembra daquela linda canção de Vinicius de Moraes: “Onde anda você?”. Lá era uma música cheia de saudade e aqui resolvemos fazer esse trocadilho com cultura, já que estamos também com esse sentimento por tudo que estamos vivendo.
A cultura volta aos palcos, porém agora dos poderes legislativos de nossa cidade. Representantes públicos atacam a cultura sem nenhum embasamento, ou melhor, sem conhecer seus profissionais e sua cadeia econômica.
Embora a cultura não esteja entre as áreas mais decisivas da ação de governo, a transversalidade dessa pasta em qualquer gestão possibilitará aproximar e entender a dinâmica que uma cidade vive, consome e suas transformações.
Hoje o mundo passa por uma transformação que nunca se imaginou. Porém, nessa transição e durante todo o isolamento, a cultura estava lá. Não podemos regredir e aceitar que representantes públicos e as pastas governamentais de cultura tornem ineficiente todo o trabalho que vem sendo desenvolvido e conquistado.
O mérito é da cadeia cultural que, alinhado aos pensamentos da gestão, perceberam o caminho a seguir. Agora voltamos a ouvir aquele velho discurso de que os recursos da cultura devem ir para outras áreas. Como se essas áreas não tivessem seus recursos e esses, se bem aplicados, todos poderiam desenvolver seus planejamentos e estratégias.
Não podemos mais aceitar nos dias atuais que não se perceba que cultura é gestão, é formação, é pesquisa, é dados quantitativos, qualitativos, é bem-estar devolvido para a população e para os seus fazedores. As competências desses gestores devem ser sim questionadas, pois é pensar em dinheiro público e em como ele volta para a sociedade.
soluções
Estamos vivenciando um momento novo para todos, e hoje mais do que nunca as ações devem ser assertivas, para diminuir o desgaste e o desperdício. Porém, essas percepções e compromissos não parecem compor o diálogo daqueles que hoje estão à frente dos órgãos de cultura. A cultura é algo em movimento. O que funcionou no século XX não cabe mais para os anseios da sociedade atual... até podem estar lá por uma questão de saudosismo e memória, mas nunca como ação principal.
O diálogo é de fundamental importância. Claro que, para dialogar, é minimamente necessário conhecer os saberes e os fazeres da nossa cadeia cultural. É urgente que se possibilite os instrumentos capazes, cada vez mais visíveis, para a percepção da diversidade cultural e das linhas que a estruturam e projetem nosso fazer artístico na política cultural que estamos vivendo. Investir na cultura é um bom negócio!
*João Fernandes- Artista, gestor cultural e professor universitário. Formado em Gestão Cultural pela Universidade Cândido Mendes, Técnico em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Ceará, graduado em Dança pela Universidade do Estado do Amazonas, mestre em Letras e Artes pela UEA.Professor dos cursos de Graduação em Dança e Teatro e Coord. da Pós-Graduação em Produção Cultural da UEA. Gestor do Casarão de Idéias.