Em artigo especial para o Bemviverblog, o terapeuta Daniel Holanda fala sobre a necessidade de aprender a exercitar e desenvolver a empatia nas nossas relações
Por Daniel Holanda*
Estamos em um momento em que nossas relações foram inesperadamente modificadas para que pudéssemos lidar com o inimigo comum, letal e invisível. Mas em meio aos desafios sempre estão as oportunidades de aprendizagem. Você já parou para se perguntar: Mas, o que eu posso aprender com essa experiência? Eu sugiro uma questão: Empatia.
Empatia é a capacidade de sentir o que o outro sente e de se colocar no lugar dele e compreender seus sentimentos, sem julgamentos, mesmo que estes sentimentos sejam de difícil compreensão para você. Esse é um dos principais ensinamentos que esse momento nos traz. É preciso começar a aprender, a exercitar, a desenvolver a empatia nas nossas relações. Seja empatia com as nossas relações afetivas e familiares, seja empatia com nossos conhecidos que também estão em sofrimento nesse momento, empatia com a humanidade, empatia com o planeta terra.
A empatia está intimamente ligada ao desenvolvimento da inteligência emocional, a saúde mental e ao processo de expansão da consciência. Janeiro é tradicionalmente marcado por duas importantes campanhas. A campanha Janeiro Branco que chama a atenção da sociedade para a importância da saúde mental e a Campanha Janeiro Lilás que busca trazer visibilidade a população trans.
Transexualidade, você sabe o que é? O que isso diz para você? Que sentimentos ou ideias as pessoas transsexuais te trazem de imediato? Pare para perceber. Sim! Pare para perceber! Porque o momento que estamos enfrentando vem nos exigindo um despertar para o processo de autoconhecimento, e para se conhecer você primeiramente precisa começar a se perceber, perceber os mecanismos automáticos que rodam na sua mente, as crenças que te foram implantadas e que você repete sem mesmo saber o porquê.
Primeiro me diga uma coisa: você sabe o que é transexualidade? Eu poderia definir de forma simples a transexualidade como um conflito de identidade. Quando falamos em transexualidade, falamos sobre pessoas que biologicamente nasceram com caracteres físicos relacionados a um gênero, mas se sentem e se compreendem no outro gênero.
Desta forma, quando falamos de uma pessoa que nasceu biologicamente homem, mas se identifica como mulher; seguindo o mesmo raciocínio, um homem transexual nasceu biologicamente do sexo feminino e se identifica como homem. É como se a pessoa habitasse um corpo que não lhe pertence e com qual não se identifica e nem tão pouco se sente confortável.
Ao longo da vida, saúde mental dessas pessoas é posta à prova. Porque, além dos sofrimentos pessoais advindos do próprio conflito existe outros inúmeros sofrimentos externos, como o sofrimento ocasionado pelo entendimento social que muitas vezes enxerga essa questão como uma doença.
Pare para pensar um pouco na vida de uma pessoa transexual! Agora, faça ainda melhor: busque um local de empatia aí dentro de você e procure sentir o que essas pessoas sentem. Normalmente os conflitos iniciam ainda na primeira infância quando a criança, que nem sabe ainda o que é sexo ou sexualidade, não se identifica ou se comporta como “deveria”.
Nessa fase infantil, a criança ainda não foi formatada pelas crenças e preconceitos dos pais ou da sociedade, ainda está em um lugar de ingenuidade e apenas sendo quem ela é, mas normalmente é nessa fase que ela já sente o primeiro impacto vindo da sociedade na qual ela está inserida, pois os pais, por não saberem lidar com o que está acontecendo, repreendem a criança, brigam ou castigam. Imagina a cabeça dessa criança! Sendo repreendida e castigada por algo que ela não entende, nem sabe o porquê.
Depois vem chegando a adolescência, os hormônios começam a exercer influência. Este período é, em geral, repleto de sofrimentos e angústias. A adolescência por si já é uma fase difícil, né? E vem a descoberta e a definição da personalidade, a necessidade de aceitação social e os conflitos por autonomia, o desenvolvimento do corpo devido ao aumento de hormônios relacionado ao sexo biológico e o desenvolvimento de interesse sexual.
É nesse momento que a pessoa trans, que já não se identifica com o gênero que lhe é imposto, começa a sofrer mais abertamente diversos tipos de preconceitos e violências. Na escola é apontada, sofre discriminação seja por colegas ou até mesmo por professores. São bem comuns os relatos de violência psíquicas, emocionais e físicas que ocorrem no ambiente escolar nessa fase o que levam, geralmente, ao abandono escolar (por não ser um lugar seguro) e consequentemente ao abandono dos estudos por esse adolescente.
Normalmente é por volta desse período que a família, por não saber lidar com a questão acaba por expulsar a pessoa de casa e aquele jovem se depara em uma situação de rua, abandono e exclusão, sendo punida apenas por ser quem ela é. Conseguem imaginar isso? Conseguem sentir? Conseguem acessar esse lugar através da empatia.
Vem então mais uma questão grave: a dificuldade de inserção dessa pessoa no mercado de trabalho. Seja por baixa escolaridade, seja por preconceito ou por todos esses fatores juntos a rejeição de pessoas trans no mercado de trabalho é uma situação perfeitamente perceptível. Pense um pouco; quantos transexuais, quantas travestis, você conhece trabalhando como professoras, gerentes, caixas em bancos, vendedoras, babás? Seja sincero: você contrataria uma travesti para ser babá de seus filhos? E para ser recepcionista de sua empresa?
A verdade é que na grande maioria das vezes as travestis são empurradas compulsivamente para a prostituição por ser um meio de se manterem. E, é pertinente ressaltar que, os corpos trans femininos são “consumidos” principalmente por homens, cisgêneros, casados, que possuem companheiras em relacionamentos tidos como “fechados”.
Então querides, se você não consegue oferecer outra oportunidade de trabalho ou mesmo fazer algo para mudar a situação dessas pessoas pelo menos não as julguem. Você não tem esse direito! Você não sabe o que essa pessoa passou! Observe o seu impulso de julgar e tente substituir por empatia ou, ao menos, por respeito. Não diferente de qualquer outra pessoa, essas pessoas também necessitam ter aceitação, afeto, respeito, pertencimento.
Acredito que já passamos da hora de tentar definir uma pessoa baseado apenas no seu externo, nas suas características primarias. Somos seres sagrados, essência divina. Não somos esses corpos. Não somos homens ou mulheres. Não somos negros, amarelos, vermelhos, brancos. Não somos gays, heteros, transexuais. Somos humanos e estamos todos juntos nesse barco chamado planeta Terra em meio a essa tempestade.
Mais que humanos, somos divinos e somente aceitando a nossa sacralidade seremos capazes de identificar o sagrado no outro. Eu vejo Deus em você! E você? Consegue ver Deus em você?
O Dia Nacional da Visibilidade Trans é comemorado em 29 de janeiro e marca a luta dessa população por visibilidade, por inclusão, por respeito, por dignidade, por cidadania. O que nos impede de oferecer isso a outro ser humano?
A empatia nos conecta, nós somos seres interdependentes, precisamos um do outro. As relações interpessoais e a boa convivência em sociedade são determinantes para que possamos ter saúde mental.
*Daniel Holanda, Mestre Dan Holanda, é terapeuta holístico, mestre em Reiki Tradicional e Tibetano, Trainer em Mindfulness e Inteligênca Emocional e estudioso de espiritualidade. É coordenador do Espaço Prema Manaus.