Todos os mortos, a exceção dos policiais, foram transformados em joio e etiquetados como 'bandidos'
(PABLO PORCIUNCULA / AFP)
O jornalismo da "grande mídia" errou e aceitou ser mais uma vez omisso em situação grave. Ao silenciar as outras vozes sobre a chacina do Rio de Janeiro seguiu no monologismo discursivo e tornou-se peça de sustentação da ideia de consenso da maioria da população em apoio à matança na capital carioca.
O posicionamento dessa poderosa parcela da mídia, se atende a interesses mercadológicos e eleitoreiros de grupos, para o jornalismo é punhal cravado no coração. Jornalismo só ganha vida pela ação dos jornalistas. São esses os seres animados do fazer jornalístico seja ele pautado pela responsabilidade e ética ou pela negação dela.
O que se viu e se vê na matança patrocinada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro é o alinhamento de um setor cuja atribuição está vinculada à métrica do separar o joio do trigo. Todos os mortos, a exceção dos policiais, foram transformados em joio e seus familiares terão uma longa batalha pela frente para restaurar a memória daqueles etiquetados como "bandidos" e ou "narcotraficantes".
Parentes atordoados e em desespero sequer sabem quais passos podem e devem ser dados. Sofrem a pressão para se manterem calados em nome de uma ação policial definida como "eficiente". O jornalismo poderia pautar a "eficiência policial" que deixou saldo de 121 mortos. Não o fez. Pautou as vozes oficiais e deixou de responder uma das perguntas cruciais nessa profissão: por que?
O dia seguinte da chacina remete a cenário absurdo e preocupante: envolve conexões de personagens políticas brasileiras como as dos EUA deixando sob suspeição a tentativa de aprofundar a desestabilização nos países da América Latina e criar ambiente favorável à invasão do governo estadunidense nessa região sob a alegação e o deboche de combater o narcotráfico e a violência.
Envolve os empreendimentos ora sendo gestados para as eleições brasileiras de 2026. Manipula de modo vil o medo e a agonia da sociedade, vítima diária, no Rio de Janeiro, em Manaus ou no rio Abacaxis da violência em diferentes modalidades, a do Estado e a das organizações criminosas.
O jornalismo, ao pender as notícias e reportagens à história única, passa a integrar a instância da violência à qual a sociedade é submetida e, em meio as convulsões, parte dela a referenda porque está asfixiada e vitimizada e quer resposta que assegure uma vida normal. Não importa o preço, como este cobrado no Rio, e sim a sensação de ter direito de ir e vir, mesmo este não existindo porque a questão-raiz não foi enfrentada, apenas serviu como recheio do momento para abastecer os acordos de grupos restritos, autoritários e dispostos a qualquer ato pra fazer valer seus planos.