OPINIÃO

A escola psicopata e os negócios da educação

Educar, aprendi com professoras e professores de toda a vida, não permite atalho. E é obra cotidiana

Por Ivânia Vieira
16/10/2024 às 11:25.
Atualizado em 16/10/2024 às 11:25

Em tempo de mudanças radicais, a educação e o papel do ser professor/a está diante de interrogações. Taylor Gatto (2019) escreve sobre o emburrecimento programado e coloca a amostra o currículo oculto da escolarização obrigatória. 

A educação, como mercadoria de primeira ordem do mercado global, é um gigante outdoor das mais diferentes marcas, e transita sem qualquer constrangimento em ambientes públicos e privados como se fosse totalmente a empresa de fabricar empreendedores, palavra da moda e curricularizada como matéria obrigatória.

“Cairá sobre a nossa cultura um futuro que nos obrigará a aprender a sabedora da experiência não matéria” (GATTO, p.56). Trata-se de um futuro em que o preço a se pagar pela sobrevivência será seguir um caminho de vida natural.

{...} Essas lições não podem ser aprendidas nas escolas como elas são. A escola, como foi enquadrada é uma sentença de prisão de doze anos em que maus hábitos são o único currículo verdadeiramente aprendido. Eu ensino escola e sou premiado por isso.  Eu sei como funciona{...}”.

A crise escolar é a crise da educação como espaço de formação. Formação do que? A moeda representada por pontuações de quem produz mais e, por ser produtor em ritmo de quase psicopatia tem a chave do portal aberta para ser inserido na gaveta de determinados sistemas medidor de competências. É igualmente a crise social.

O mundo da mercadoria exige sermos parte permanente de rankings onde uns poucos irão ao topo e a maioria sequer alcançará a base dos dez mais, dos 20 mais, dos 50 mais. Essa porção maior será punida porque ameaça arrastar instituições ou conglomerados de ensino a colocações que afetam a audiência do produto e o valor monetário cobrado para ser parte dele.

As tecnologias, velozes nas mudanças que produzem, foram evocadas como possibilidade de ampliar acessos, refinar princípios da humanização humanizada e torná-los referências do presente. Saberíamos nesse mundo da tecnologias inteligentes, onde a artificial é a fatia mais desejada,  utilizar os recursos disponíveis para reparar as feridas, curando-as, reduzir distâncias, tecer alianças de proteção aos desprotegidos, educar e professora como ato político de  contribuir na construção de gente, de cidadão e de cidadãos. Nos levaria a refazer as pazes com a Natureza e nos colocaríamos como parte dela e, desse modo, compreender a importância da floresta, dos rios, da terra, do ar e do fogo nos completando nessa passagem terrena.

Educar, aprendi com professoras e professores de toda a vida, não permite atalho. É obra cotidiana na escola com sua função institucionalizada e na escola do mundo, no bairro, na rua, na cidade. Estamos olhando os negócios da educação, os empreendimentos que engolem quadra inteiras e se apossam das áreas públicas, das calçadas e de pontos de abrigo público, para os quais não há crise, e o que fazemos diante desse cenário? Oferecemos títulos como prêmios pela capacidade empreendedora dos que nos sabotam e se apropriam dos bens públicos. A educação, assim configurada, nos arrastará ao emburrecimento e à glorificar, literalmente, o sistema que adota a “escola psicopata”.

Assuntos
Compartilhar
Sobre o Portal A Crítica
No Portal A Crítica, você encontra as últimas notícias do Amazonas, colunistas exclusivos, esportes, entretenimento, interior, economia, política, cultura e mais.
Portal A Crítica - Empresa de Jornais Calderaro LTDA.© Copyright 2024Todos direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por