Em 1993, 61,68% da população de Manaus (estimada pelo IBGE em 1.078.277) se encontrava na faixa de carência alimentar. O dado consta de estudo realizado pela então Universidade do Amazonas (atual UFAM), coordenado pelo Prof. Narciso Lobo, do curso de Comunicação Social/Jornalismo.
Naquele mesmo ano, no mês de abril, na sede do Conselho Regional de Economia do Amazonas e Roraima (Corecon-SM/RR), ganhava vida uma das iniciativas históricas no Brasil e no Amazonas: a Ação da Cidadania contra a fome, a miséria e pela Vida, sob inspiração de Herbet de Sousa, Betinho. O comitê estadual ficou sob responsabilidade do padre Humberto Guidotti, coordenador do Centro de Defesa dos Direitos Humanos, vinculado à Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB-Norte I).
Dom Helder Câmara, uma das referências latino-americana na luta em defesa dos direitos humanos
Na noite de 23 de junho naquele ano da década de 90, na Praça da Saudade, uma multidão se reuniu para escutar o bispo de Recife, Dom Helder Câmara, uma das referências latino-americana na luta em defesa dos direitos humanos e convidado especial da cerimônia de lançamento do comitê. O movimento contra a fome e a miséria e pela vida tornou-se uma das razões de diversas e muitas mobilizações sociais, tema de debate em sala de aula, da pauta de produção de pesquisas, das ações de extensão e de expressão da solidariedade dos brasileiros com recorte dos moradores do Amazonas.
A memória da Ação da Cidadania no Amazonas e da condição de carência alimentar da população manauara é um dos 21 artigos que compõem a coletânea “Lutas e Movimentos Sociais no Amazonas”. Editado pela Valer e lançado no dia 16 de outubro, no auditório da Maromba, o livro resgata históricos de movimentos e organizações da sociedade civil que impulsionaram as lutas no Estado do Amazonas e, alguns deles, produziram mudanças na forma de tratamento dado pelos poderes executivo, legislativo e judiciário às questões pautadas.
De autoria do economista e vereador de Manaus José Ricardo Wendling (PT) e da jornalista Jane Rodrigues Coelho, a publicação entrega à sociedade amazonense e aos interessados em conhecer o vasto material escrito por aquelas e aqueles que participaram ou acompanharam esses movimentos. São relatos, distribuídos em 286 páginas, das lutas travadas entre os séculos XX e XXI por mulheres e homens desses 21 coletivos.
Os escritos dão concretude a um acervo que até antes da publicação estava guardado nas cabeças e nos corações dos autores. Trata-se também da sistematização de inúmeros dados sobre a cidade de Manaus e do ativismo popular, da atuação das mulheres, das mulheres pretas, das juventudes, das pastorais sociais, de comunicadores populares, sindicatos, redes de articulação, fóruns, cursinhos periféricos de preparação para o vestibular, da saúde mental, da meia-passagem.
O vereador José Ricardo Wendling que tem se preocupado em promover e publicar histórias de personagens que encarnaram e encarnam a defesa dos direitos humanos – como o fez na série Vidas que Falam – traz neste livro os e as protagonistas das lutas pela dignidade humana, por uma Manaus que quis e quer superar a fome, a desigualdade, as violências, o racismo. Se tem luta tem história, memória e com ela é possível reacender a esperança que pode transformar.