OPINIÃO

Conformismo se rompe e a rua volta a ser do povo

Um aviso ao Congresso Nacional estava sendo dado: acautelai-vos! A excrescência deve ser contida

Por Ivânia Vieira
24/09/2025 às 13:02.
Atualizado em 24/09/2025 às 13:02

Em Brasília, organizações e movimentos sociais realizam atos contra projeto de Anista e PEC da Blindagem (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Abram alas aos cabeças brancas das artes onde a idade não veta; abram alas aos andarilhos de passos mais lentos sem perder o ritmo dos passos dados, dançados, dos rodopios e dos olhares roubadores de coração e mente; abram alas aos encontros e reencontros mais bonitos por que revelam irresponsavelmente a química do amor feita de determinação na defesa da democracia brasileira.

Sim, o 21 de setembro de 2025 se fez um abre alas gigante. Brasileiros, de todas as idades, de peles pretas, quilombolas, brancas, amarelas, indígenas, pardas, de adeptos de diferentes religiões, dos ateus, de filiados e não filiados a partidos políticos, da comunidade LGBTQUIAPN+ caminharam nas ruas e, em algum momento, num pedaço das cidades do Brasil, encontraram-se, como há muito não se via acontecer. 

Sim, abraçaram-se, beijaram-se, lembraram dos que se foram, pousaram paras fotos, cantaram e gritaram palavras de ordem. Um aviso ao Congresso Nacional estava sendo dado: acautelai-vos! A excrescência deve ser contida.   

Por que tantas pessoas foram às ruas no domingo? A fagulha da revolta acendeu por acúmulo dos atos indigestos patrocinados pelos legisladores. Deputados federais exorbitaram ao aprovar a “PEC da Bandidagem” e, ao fazê-lo, espalharam faíscas e fizeram festa prévia como parte do escárnio sobre a função constitucional do poder legislativo e o respeito devido à sociedade.

O pós-21 de setembro exige atenção para o que virá, a partir desta semana e nos dias seguintes, como reação do Congresso Nacional e de outros setores adeptos e investidores do retrocesso no País. Os protestos são um texto vigoroso e advertem quanto as formas de uso dessa força demonstrada nacionalmente por essa gente que andava “falando de lado” e “olhando pro chão”.

No Legislativo, as costuras nesse momento estão sendo feitas. Não para assegurar mudanças que tornem mais responsável a conduta do  Congresso Nacional quanto ao decoro parlamentar e a responsabilidade de zelar pela soberania do Brasil. Projetos de lei escabrosos são acionados, brotam de comissões e ganham votos para seguirem adiante sob a ameaça de se tornarem leis.

Há 57 anos, uma passeata reunia 100 mil pessoas, no Rio de Janeiro. Era um arrastão a cada metro caminhado. O ano, 1968, aquele que não terminou e reúne, no 2025, Caetano, Gil, Chico, agora com Paulinho da Viola, Geraldo Azevedo, Ivan Lins, a turma dos 80 mais, com Djavan, 76,  Lenine, 66, Pretinho da Serrinha, 47, Maria Gadú, 38. Edson Luís, o estudante morto na ditadura foi a faísca mobilizadora. 

Hoje, a cantoria e a dança da liberdade retomam as ruas do Brasil, as cores de uma nação e se espalham. Traidores da pátria, abram alas.               

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