OPINIÃO

Mídia e Ministério Público, efeitos de uma aliança

Como a independência do MP em relação aos demais poderes instituídos é manejada e quais resultados produz?

Por Ivânia Vieira
23/09/2024 às 08:58.
Atualizado em 23/09/2024 às 08:58

Português José Sócrates foi acusado de corrupção passiva na Operação Marquês (TIAGO PETINGA / POOL / AFP)

O ex-primeiro-ministro de Portugal José Sócrates ao citar um tipo de “combinação” entre operações do Ministério Público e a imprensa põe em pauta algumas questões fundamentais: A necessidade de avaliação permanente da instituição Ministério Público notadamente a partir da Constituição de 1988, no caso brasileiro. Como a independência do MP em relação aos demais poderes instituídos é manejada e quais resultados produz? Com quais interesses faz aliança? O jornalismo é outro ponto.          

José Sócrates, acusado de corrupção passiva na “Operação Marquês”, instaurada em 2014, ficou preso preventivamente por nove meses. Em entrevista ao canal Brasil 247 em março deste ano, o ex-primeiro-ministro classificou de “comércio da informação” essa relação seguida de premiação de determinados juízes. Sócrates não falava do Brasil e sim da operação portuguesa, embora determinados aspectos na atuação de juízes tenham semelhanças. 

Sérgio Moro, como juiz, virou celebridade de primeira linha, a mídia o tornou “super juiz” e o disputava. O apoio gigantesco ao magistrado pelo meio virtual, na adesivação massiva quase como moda foram utilizados por Moro para promoção pessoal ao mesmo tempo em que o ódio ao Partido dos Trabalhadores, ao presidente Lula era exaltado como ingrediente da Operação Lava Jato.

Os dias seguintes das ações de Moro e seu grupo estão sendo contados. No caso dele a escrita é de autoria do ex-juiz, ex-ministro e senador que poderá vir a ser cassado. A “estrela” caiu e está na poça do lodo, manchada. Outra contribuição do então juiz e da maior parte da mídia tem o nome de governo Bolsonaro e toda a truculência exercitada no país nesse período.

A mídia igualmente deve ser avaliada e o resultado dessa avaliação devolvido à sociedade. O jornalismo apeado por interesses restritos, de grupos poderosos, trilha o descaminho da responsabilidade social ao qual está vinculado. O comércio da informação e as respectivas premiações dos informantes apresenta danos por vezes irreparáveis ou que irão exigir longo processo para a reparação acontecer.

Quando juízes e a mídia aderem a condutas inadequadas, ilegais, demarcadas por interesses escusos a democracia é golpeada e pode assumir estado de inanição. O Brasil viveu, mais recentemente, sob tentativas de enclausurar a democracia e abraçar o fascismo, implantar as regras da direita radical. As raízes desse movimento estão se estendendo e revelam o plano com seus braços nas casas legislativas, nos templos e igrejas, em escolas e comunidades universitárias, nas associações e conselhos de representação de alguns profissionais, nas instituições públicas e em segmentos empresariais. A asfixia da democracia tem participação ativa da mídia e de parte do Ministério Público. Avaliar oferece diagnóstico e esse indica o tratamento, se é a cura do mal o que se busca.

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