Enquadramento mental sobre a forma de cobrir e de analisar permanece mais forte e vigoroso enquanto prática
(Imagem gerada por Inteligência Artificial /Canva)
Os resultados do primeiro turno das eleições municipais provocam alvoroço e repetição do modelo hegemônico de cobertura jornalística e de análise dos números revelados pelas urnas. Nessa performance, muito material de informação é abandonado ou ignorado pelas janelas jornalísticas de representação das coisas do mundo.
Quem ganhou e quem perdeu, quais líderes políticos saíram vitoriosos, derrotados, quais partidos saem do processo eleitoral fortalecidos, qual campo ideológico cresceu – o da direita, o da esquerda? As surpresas e as decepções de desempenho dos candidatos. Assim os programas de cobertura das eleições são movimentados por longas horas.
Mapas são desenhados e sentenças proferidas em meio as incertezas do tempo presente. As vozes de vários analistas não representam a pluralidade das vozes, pois, o enquadramento mental sobre a forma de cobrir e de analisar permanece mais forte e vigoroso enquanto prática.
Para alguns eleitores que saíram de comunidades rurais de Manaus, percorreram 40 minutos de voadeira e mais 15 minutos a pé, na estrada de barro, votar é um dever e não entendem o que é ser da direita nem da esquerda. Querem água diante do Lago do Puraquequara, seco. Querem comida, remédios, escolas, acesso ao tratamento dos dentes danificados e recursos para viverem como pessoas dignas.
Para essas pessoas, votar é a possibilidade de mudar a realidade a que muitos estão submetidos como parte da periferia econômica da cidade. São seres invisíveis descobertos horas antes de votar. “Nunca veio um candidato a prefeito aqui, conversar com a gente”, disse um dos eleitores, morador da comunidade Santa Rosa. No chão de barro partido era possível ver a festa dos santinhos de candidatos. Emissários foram e deixaram recados sobre quem deveriam votar.
Outros sinais escrevem mensagens sobre a dificuldade de fiscalização em áreas aparentemente fora do alcance dos agentes da lei e da ordem ou controladas por esquemas operacionalizados à margem da legalidade: o transporte ilegal de passageiros/eleitores, pagamento de taxas de passagem e postos de gasolina lotados de carros como se o domingo (6) fosse um “dia de promoção de gasolina”.
Nessas entranhas periferizadas uma outra cidade é a realidade de milhares de famílias, de homens e de mulheres, dos jovens. Eles sabem porque passam e conhecem o significado da palavra abandono por parte dos agentes públicos e da solidão que os submete aos mandos de outros. Hoje vivem a seca dos rios, dos lagos e, na escassez da água, a vida também fica escassa. É mais difícil encontrar alimentos e água potável, a distância tornou-se maior os preços ficaram mais altos. A fome ronda o voto.