OPINIÃO

O efeito Amazônia na etiqueta da burocracia branca

Por Ivânia Vieira
27/11/2025 às 08:58.
Atualizado em 27/11/2025 às 08:58

Indígenas de diferentes origens protestam dentro da Blue Zone da COP30 em Belém (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

A primeira Conferência das Parte (COP) sobre Mudança do Clima realizada no Brasil deixa elementos para serem trabalhados a partir de agora. Não apenas em relação ao protocolo das COPs e sim sobre a necessidade de compreender as diferenças existentes no mundo habituado a pacotes fechados e a uma cor de pele, a branca.

Na Amazônia, as delegações oficiais da COP30 foram colocadas, mesmo reunidas na área azul (blue zone), diante de tantos povos e suas culturas. A Cúpula dos Povos, em território amazônico, se fez presente, ecoou suas vozes, fez sentir o som dos seus passos e ritmou as manifestações de protestos, de alerta, das reivindicações.

É nesse encontro/confronto que os dois acontecimentos reverberam. Embora uma parte da mídia tenha focado nas decepções, a Cúpula dos Povos  produziu outros efeitos que se foram pouco tratados nas notícias e reportagens, marcadas mais pela busca das personalidades, estão ressoando no processo de descobertas dos participantes dos dois acontecimentos em Belém (PA).

Questões como calor, distância, falta de estrutura e manifestações para mudar a sede da COP30 são outro item a ser explorado. É possível colocar todas elas no saco do racismo. É preciso reconhecer que a colonialidade permanece ativa e tem sido incentivada pelos governos mais extremistas que tentam naturalizar a ideia de existência de uma raça – a branca -superior às demais.  

Nas ruas, nos corredores e nas salas da Cúpula dos Povos, gente diferente ofereceu o banquete das lutas, do porque participar, do grande palco do vestuário e dos acessórios nos corpos, nas cabeças, na pele. Um espetáculo da resiliência diante dos que se acomodam na etiqueta da burocracia imposta por governos e setores do poder que atrasam a mudança de atitude e aceitam leis, normas, acordos para manter um modelo de desenvolvimento perigoso porque se faz na destruição continua dos bens naturais, no culto a consumo exacerbado e na promoção da desigualdade na terra.

A Amazônia, no pedaço chamado Belém,  se fez presente não mais por imagens e sim  em realidade, com chance de experimentar a chuva, o calor, a firmeza e a alegria dos seus povos; as comidas, as bebidas, os cheiros, uma profusão de afetos. Alguns como o chanceler alemão Friedrich Merz, ficaram atordoados, outros extasiados e muitos ainda  tentando compreender o vivido, como uma das experiências inesquecíveis.

O Brasil inaugurou um outro arranjo de COP30 e, nele, assentou a Cúpula dos Povos no seu lugar de ação, visível, audível. É exercício político que pode ajudar a construir e ou revigorar a rede da resistência e da solidariedade que historicamente se ergue, além dos mares e das fronteiras para fazer a revolução. No tecimento de hoje, a natureza alerta a humanidade e convoca as pessoas sensatas a tomarem decisões já.

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