Enquanto parlamentares performatizam hipocrisia de seus mandatos e tentam esconder xenofobia, mulheres continuam sendo torturadas e assassinadas no Brasil
Marcha do Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 08/03/25, no centro do Rio de Janeiro (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Os números neste caso não importam. Não fazem parar. Não justificam a tomada de decisão firme. Parlamentares agressores de mulheres estão nesse momento enfeitando peças publicitárias dos partidos aos quais estão filiados e convocam mulheres a ingressarem nessas legendas.
Enquanto performatizam a hipocrisia de seus mandatos e tentam esconder a xenofobia neles abrigada, mulheres continuam sendo torturadas e assassinadas no Brasil. A escalada segue e não se assemelha a filme de terror porque é realidade na maioria das cidades brasileiras. Algumas cenas da perversidade podem ser vistas na tela do aparelho celular seguindo-se a profusão de reações entre “meu Deus”, “que absurdo”, “que horror, “como é possível?” “não é gente, é um animal” ou as outras sentenças desse tribunal virtual reveladora dos pactos pela manutenção do feminicídio e a criminalização das mulheres.
A vida das mulheres brasileiras na realidade não pode aguardar soluções futuras, exige respostas responsáveis agora. Cabe ao governo federal tomar medidas mais radicais e efetivas para enfrentar a violência contra as mulheres e a matança ora feita. Há um silêncio de representantes do governo a frente de ministérios e de outas instâncias governamentais diante dos casos.
No Amazonas, com o perfil machista que marca uma das faces da nossa história e seu laço a governos conservadores e de direita, a estrutura administrativa, política e social reflete a naturalização dos atos de violência de gênero. Nos espaços de poder é a falta da equidade de gênero que sobressai, é a cultura de violência a mais vivenciada e nela a política da vida tem os suportes de sustentação.
Parlamentares venceram a barreira do decoro e tornaram repetidos os atos de agressão às mulheres. Na maioria dos municípios amazonenses, prefeitos e seus corpos auxiliares, vereadores seguem nessa mesma cultura. Não estão isolados, têm de parcela da sociedade a aquiescência a essa atitude bem como de setores religiosos.
Por isso, é necessário agir em várias direções: nas escolas, nas universidades, nas ruas, dentro de casa, nos bares, nos meios de transporte, nas igrejas, nas casas legislativas, no executivo e no judiciário. É necessário sair desse lugar de indignação acomodada à violência contra as mulheres e ao feminicídio. É necessário enfrentar a letargia e aqueles que faturam votos, dinheiro, títulos e poder pela violência que praticam. É necessário educar às crianças sobre o machismo para que quando jovens e adultas sejam portadoras de humanidade, do respeito às mulheres e à dignidade da pessoa.
Romper a construção da violência exige pensar sobre os que são eleitos para nos representar e os programas colocados em prática. Exige estudar a mídia e conhecer o discurso principal dela como aliada aos elementos que cultivam a violência entre eles o autoritarismo, a negação sistemática da participação das mulheres nos espaços de poder e a valorização de uma linguagem detratora das mulheres.