Tudo na floresta está em equilíbrio. E lá não existe ninguém para regar, adubar, revolver o solo.
Morei durante 30 anos em Manaus. E desde criança presenciava minha mãe varrendo o quintal de casa e o imenso terreno da nossa chácara durante horas a fio. A meta era deixar o terreno “brilhando”, sem nenhuma única folha de mangueira ou jambeiro no chão. Lembro como se fosse hoje, das pilhas de folhas e pequenos galhos a espera de um destino nada nobre: o lixo ou a fogueira.
O que minha mãe não sabia naquela época, é que folha seca não é lixo. É adubo da melhor qualidade. É matéria-prima para a compostagem, é alicerce para elevar canteiros em jardins. As folhas secas quando entram em decomposição, devolvem matéria orgânica para o solo, além de nutrientes importantes para a nutrição da terra, a exemplo do carbono e nitrogênio.
Na prática, solo coberto é solo protegido e adubado. E pasmem, quem faz esse trabalho de forma magnífica são as folhas secas, que muitas pessoas ainda jogam fora por não saberem disso. E sabe o que eu acho mais contraditório? As pessoas varrem o quintal, recolhem as folhas, ensacam, jogam no lixo, e após isso, vão ao Garden para comprar terra adubada com o intuito de nutrir o solo dos canteiros e vasos. Um ciclo sem fim.
O pessoal da Permacultura, Agrofloresta e Agroecologia (eu me incluo nisso) usa muito a cobertura do solo com palhas protetoras para equilibrar o solo de grandes áreas. Essa técnica, pode e deve ser utilizada em espaços menores: quintais, hortas, pomares e vasos. Existem algumas espécies que não gostam das palhas protetoras, a exemplo das epífitas e cactáceas, elas preferem substratos mais drenados e secos.
Confira abaixo mais sobre os benefícios da cobertura do solo:
# Evita a perda excessiva de água no solo;
# Diminui o impacto das chuvas;
# Regula a temperatura ambiente do solo;
# Enriquece o solo à medida que se decompõe (adubo);
# Melhora o desempenho das culturas, sejam alimentícias ou ornamentais;
# É custo zero;
# Confere um acabamento rústico e natural ao jardim.
Para proteger o solo, a regra deve ser: usar material seco, de origem vegetal e em pedaços pequenos. Aqui, alguns exemplos do que podemos utilizar.
# Casca de pínus;
# Cavacos de madeira;
# Serragem (sem tratamento químico);
# Musgo desidratado;
# Fibra de coco (desfiada ou triturada);
# Palha de arroz (natural ou carbonizada);
# Feno;
# Bagaço de cana;
# Aparas de grama;
# Folhas secas trituradas ou quebradas em pedaços pequenos;
# Gravetos e pedaços de troncos (triturados);
# Bagas secas de sementes;
# Casca de amendoim, de castanhas ou de nozes trituradas.
A natureza ensina
Pense em como é o chão de uma floresta. Lá, não existe ninguém para regar, adubar, revolver o solo. Tudo na floresta está em equilíbrio: não tem pragas atacando as plantas, pois o próprio ecossistema dá conta de criar as condições perfeitas para as plantas que ali habitam. E graças à cobertura vegetal, o solo da floresta é fofo, drenado, rico em micro vida. Agora, faço aqui um contraponto: o solo do sertão. No sertão, a terra é seca, esturricada, sem vida, sem matéria orgânica; é um solo empobrecido, sem a cobertura vegetal.
Te dei muitos motivos para não jogar fora as folhas secas a partir de hoje. E repito. Folha seca não é lixo. Folha seca é vida, é natureza. É o ciclo da vida que encerra e se renova no jardim.
Forte abraço!
Jardim da Marilua