Eu sempre tive plena consciência de que sou viciado em farinha. Principalmente a do uarini, mas nunca discriminei a branca não, muito menos aquele “farelo” que servem no Sul/Sudeste (olha o bairrismo aí - a do Nordeste até que vai bem mais fácil). E de qualquer forma, seja a farinha pura ou a farofa na manteiga, com bacon, com ovo, com carne, com leite de côco e até mesmo feita à base do tão falado óleo de côco servida com palmito, como já me apresentaram uma vez.
Oras, fui criado por uma chef de primeira no meio dos enormes fogões da cozinha industrial que minha família teve por algum tempo no imóvel que ficava na Estrada dos Franceses – a Affonso Alimentos Ltda. – e uma “farofada” sempre foi a alternativa para uma refeição rápida e gostosa. A farofa de uarini incrementada com alguma gordice sempre foi meio que a comida tradicional da minha família, então é apenas normal essa minha paixão pela iguaria brasileira, principalmente a regional (não vou levantar aqui o assunto de que já até coloquei farofa num sanduíche de carne). Resumindo: faltava arroz e feijão mas não faltava farinha na minha refeição. Na real, podia faltar até carne que um pirão improvisado a base de feijão, macarrão e farinha resolvia a questão.
Nas dietas feitas ao longo da vida, a farofa nunca foi totalmente eliminada. Até o início deste desafio, o Pronto Pra Casar. Por pouco mais de dois meses fiquei sem uma colherada de farofa sequer, e no início não foi tão ruim quanto tinha imaginado. A cada vez que servia meu prato e chegava na mesa sem farinha, eu sentia orgulho de mim. Sério mesmo! Mais pela força de vontade do que qualquer outra coisa, e estava levando bem. E os resultados foram nítidos, já que desinchei legal e perdi bastante da barriga. Mal sabia eu que o pior ainda estava por vir, e de uma maneira bem inesperada por mim.
Tive uma recaída. Comecei a farelar o grão por cima do arroz integral, só pra matar aquela saudade/vontade. Quando vi, um tempo depois, já estava me servindo pequenas porções, ocupando uma parte considerável do prato. E além daquele sentimento de orgulho ter dado uma desaparecida, notei que a barriga voltou a ficar um mais pretuberante, a papada e os dedos um pouco mais grossos... Óbvio que nada parecido com quando eu estava 10 quilos mais gordo, mas o suficiente para me incomodar e fazer perceber que esse realmente não é o caminho.
E foi ai que complicou e largar a farofa virou um novo desafio. O vício no ato de comer algo delicioso não é muito diferente do vício em droga. E foi bem neste esquema: consegui largar, veio uma espécie de abstinência, tive a recaída e conseguir se disvincular desta paixão foi mais difícil do que nunca, mas estou conseguindo e planejo permanecer assim até o casamento, daqui a 30 dias. Botam fé que consigo?