André Alves é jornalista formado pela Ufam. Atuou em redações de jornais durante 16 anos. Foi repórter, editor-executivo e editor da coluna Sim&Não de A Crítica
Luiz Henrique Mandetta está de saída do Ministério da Saúde. É evidente que ele próprio não quer mais ficar. Na atual fase do confronto aberto com o presidente Jair Bolsonaro, Mandetta age estrategicamente, em cada frase e entrevista, para se consolidar como presidenciável em 2022. Entre ele e Bolsonaro, aliás, só há um pensamento em comum: a campanha de 2022.
Antes da pandemia do novo Coronavírus, Luiz Henrique Mandetta era um ilustre desconhecido da maioria da população brasileira. Hoje, quase todos têm o sobrenome do ministro na ponta da língua. Segundo o Datafolha, o modo como o Ministério da Saúde é conduzido por ele conquistou 76% da população. Não é um número de se jogar fora.
Por isso, a cada dia que passa, é quase certo que o ex-deputado federal pelo Mato Grosso do Sul daqui a pouquinho estará atuante como secretário em algum governo estadual. Talvez Goiás, de onde ele decidiu, no domingo, esticar mais um vez a corda com Bolsonaro. Mandetta falou ao Fantástico da Globo (vejam só) da sede do governo de Ronaldo Caiado (vejam só), atual desafeto de Bolsonaro (bingo!).
Disse Mandetta à Globo: “Governador Ronaldo Caiado é como um irmão mais velho, uma espécie de ‘paizão’. Então, ele me convidou, eu aceitei, vim aqui com minha esposa e almoçamos juntos hoje, rezamos juntos com a família dele, ele me emprestou um pouquinho da família dele para recarregar as baterias. Por causa disso, eu vim pra cá”.
Exposto como tem estado, nos últimos dias, nem sei se o ministro da Saúde deveria ter trocado afagos com outra família, que não a sua, em um momento de “transmissão comunitária” do Coronavírus. Mas essa nem é a questão.
O problema, atualmente, é que a população brasileira tem a nítida impressão de que está sob a égide de dois governos: O Governo Mandetta, que parece conquistar cada vez mais o público e a mídia com um discurso “certeiro”, e o Governo Bolsonaro, que durante a crise do Coronavírus no País coleciona polêmicas e afasta apoiadores (Carlos Vereza, Janaina Paschoal, o próprio Ronaldo Caiado, entre outros).
Mas ambos estão em tom de campanha e tentam se salvar politicamente. Não é à toa que Bolsonaro vem insistentemente alertando a população de que são os governadores, e não ele, os responsáveis pelas medidas restritivas que, só no primeiro mês, levaram ao fechamento de 600 mil pequenas empresas. Mandetta, por sua vez, joga com a torcida e tempera o discurso à medida dos acontecimentos.
Não há nenhum problema em pensar no futuro como fazem Jair Bolsonaro e Luiz Henrique Mandetta. Mas quando a campanha eleitoral é o foco, tudo vira “produto”, inclusive a saúde. É aí que mora o perigo.