André Alves é jornalista formado pela Ufam. Atuou em redações de jornais durante 16 anos. Foi repórter, editor-executivo e editor da coluna Sim&Não de A Crítica
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As declarações de Sérgio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro são avassaladoras. ‘Nunca antes na história deste País’ um ministro da Justiça, ainda na função, acusou em alto e bom som um presidente de tentar interferir e ter acesso a investigações sigilosas conduzidas pela Polícia Federal ou em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao se demitir, Moro puxou o pino de uma bomba capaz de implodir o Palácio do Planalto e dar início a um processo de impeachment.
Das graves acusações feitas por Moro, chama atenção a seguinte declaração: “O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação”.
Mais adiante, Moro afirma: “Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo”. O ministro demissionário ainda compara: “Imaginem se durante a própria Lava Jato, ministro, diretor-geral, presidente, a então presidente Dilma, o ex-presidente, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento?”.
Mas não foi só. Sérgio Moro fez uma memória do processo de demissão do ex-diretor-geral da Polícia Federal, Marcelo Valeixo, lembrando que a partir do segundo semestre de 2019, Jair Bolsonaro passou a insistir na troca do comando da instituição, sem apresentar causa que não fosse apenas interferir nas investigações tocadas pela corporação. Investigações essas que alcançam os filhos do presidente da República. Detalhe: o ex-juiz também disse que o Planalto mentiu ao registrar o nome do ministro no ato da demissão de Valeixo.
Fragilizado, sem base de apoio entre os congressistas e isolado da articulação na Câmara Federal, no Senado e no Supremo, Jair Bolsonaro caminha com as próprias pernas para o impeachment, por possível crime de responsabilidade. Entre os poderes e por várias razões distintas, republicanas ou não, a saída do presidente já é desejada há muito tempo. Jair Bolsonaro só se salva se contrapor, de forma contundente, todas as acusações feitas por Sérgio Moro.