Se “voltarmos”, estaremos errando feio e perdendo a chance de virar a mesa. O mundo mudou, também precisamos mudar.
Essa semana fiquei observando as pessoas pronunciarem em alto e bom som: “Quando a pandemia passar, voltaremos ao normal e …” Parecia um sinal, de tantas vezes que ouvi e vi, dos mais diferentes tipos de gente, com ou sem autoridade investida: “Voltaremos a bla bla bla bla bla…” Que normal, para quem e para quantos? O problema reside exatamente no verbo, na pessoa e no tempo empregado: voltaremos, no futuro simples, na primeira pessoa do plural, nós!
Tratamos a pandemia como uma ferida que será curada, sem deixar cicatrizes ou outros tipos de sequelas, para o retorno ao ponto em que nossa realidade foi interrompida em março de 2020, retomando uma linha do tempo de maneira previsível e até simplista. Eu, na minha ignorância, acredito que NÃO VOLTAREMOS. Exatamente, não voltaremos a nada!
Percebo que, controlada a pandemia, viveremos um tempo que se assemelhará aos cenários econômicos do pós guerra, que quase nenhum de nós viveu, mas que a história está aí para servir de testemunha e de fonte de informação.
É previsível que os países sofram consequências catastróficas em suas economias e que uma crise profunda se instale, afetando a todos de formas diferentes. Não voltaremos ao ponto em que paramos; estaremos enfrentando desafios novos, sem precedentes, e que, de acordo como os abordarmos, poderemos gerar, ao invés de soluções, problemas ainda maiores.
Não há fórmulas, nem manuais para esse novo tempo do pós-guerra sanitária, ainda desconhecido, mas o oráculo do tempo aponta caminhos mais acertados. O Japão, por exemplo, derrotado fragorosamente na Segunda Grande Guerra, atingido por duas bombas atômicas, é uma especie de resposta à charada do tempo.
Terceira economia do planeta, passados 76 anos da vitória de seus rivais, os japoneses deram, em meio a inúmeras dificuldades, uma lição de eficiência, eficácia e efetividade. O que eles fizeram: se fizeram diferentes, em quase tudo! Não cabe aqui detalhar, e nem acho que devamos imitar o protocolo de medidas que eles adotaram, mas o sucesso veio da inovação e da persistência. Apesar da tradição imperial milenar, misturada ao shogunato, eles “não voltaram”. Seguiram novos caminhos.
E nós? Me pergunto se ainda repetiremos velhas fórmulas de defesa do modelo ZFM, se compraremos uma briga com unidades federadas muito mais fortes politicamente e se continuaremos a adotar o discurso negacionista romântico, ingênuo, burro e mentiroso, para a questão ambiental, que só privilegia a devastação do meio ambiente natural e humano.
Mais uma vez, na minha ignorância, acredito que respostas previamente prontas não atendem às novas demandas. Se “voltarmos”, estaremos errando feio e perdendo a chance de virar a mesa. O mundo mudou, também precisamos mudar. E me pergunto: quando começaremos a planejar o novo? E a quem caberá essa responsabilidade? Somos capazes? #Pensa