Quero dividir essa data especial com todos vocês, e dizer-lhes o quanto estou grata. Completar um ano no decorrer da pandemia é uma vitória, das grandes!
Essa semana estou comemorando o meu primeiro aniversário como blogueira. Meu blog Vida de Imigrante foi publicado neste portal pela primeira vez no início de março de 2020. Esse projeto foi um presente para minha vida e me devolveu a paixão pela escrita de histórias.
Há um ano eu escrevi no Facebook uma postagem intitulada: “O que tem atrás do sotaque”. Foi um desabafo, pelas brincadeiras e tiradas de onda dos meus colegas corretores imobiliários brasileiros, pelo meu jeito de pronunciar o português que para eles era engraçado.
Eu contei naquele post que atrás do sotaque tem uma família separada, pessoas lutando por uma vida melhor no país dos outros, tem profissionais com alto nível acadêmico, mestrado ou doutorado se reinventando em outros ofícios, só para ganhar dinheiro e sobreviver, tem pessoas com caráter e dignidade que emigraram de seu país porque não querem viver na miséria, com fome, sem medicação, insegurança e em socialismo. Tem pessoas se esforçando por um futuro melhor para seus filhos. Tem pessoas que merecem respeito, eu disse.
Depois disso, recebi o convite da editora de economia da A Crítica, naquele momento, Cinthia Guimaraes, para escrever um blog sobre os desafios culturais, idiomáticos e as dificuldades de adaptação dos venezuelanos em Manaus, além de meu olhar desde o exílio do que acontecia no meu país. A diretora de Redação, Aruana Brianezi, gostou da ideia e aprovou a publicação. Eu como jornalista estrangeira fiquei muito feliz e honrada pela oportunidade.
Percebi que um blog era a melhor maneira de expor minhas experiências e de contar o que um estrangeiro sente quando está no recomeço da sua vida em outro país. De descrever o que o regime de Nicolas Maduro e seu socialismo fez com a economia da Venezuela e o que o povo enfrenta dia após dia. De relatar o que meus irmãos venezuelanos que ficaram lá, e os que estão em Manaus, fazem para sobreviver. Conseguir dividir essas histórias com vocês me torna mais feliz pela satisfação do dever de informar cumprido.
Mas chegou a Covid-19 e o espaço teve uma abrangência maior, incluindo assuntos que me interessaram no decorrer da pandemia. Comecei a falar de coisas que aconteciam comigo, também falei de alguns sentimentos pelo confinamento e então passei a falar de política, tradições, saúde, enfim.
Momentos marcantes
Alguns leitores ficaram surpresos com os relatos sobre o socialismo na Venezuela, sobre os preços em dólares ou em milhões de bolívares da comida, que poucos podem pagar. Quando eu disse que um pão de presunto tinha o preço de 2,5 milhões de bolívares, olha só, me chamaram de “Sensacionalista”, mas é assim mesmo.
Dos momentos mais marcantes eu incluo quando me pediram referências da Amazonas Jazz Band e de locais para fazer ecoturismo no Amazonas. Outros leitores amaram as tradições natalinas e as “hallacas” venezuelanas. Muitos foram solidários com meus irmãos refugiados em situação vulnerável e compraram pizzas para ajudar a instituição que os acolhe, em resposta a meu post. Não tem felicidade maior!
Por isso quero dividir essa data especial com todos vocês, e dizer-lhes o quanto estou grata. Completar um ano no decorrer da pandemia é uma vitória, das grandes! Foi um grande desafio que ajudou muitas pessoas e contribuiu para que outras portas se abrissem para mim no Brasil.
Meu blog Vida de Imigrante também serviu para que vocês, brasileiros, entendam o que nós venezuelanos vivemos na luta por dias melhores fora de nosso país de origem.