Noticiários da imprensa de oposição jamais pouparam agressões verbais ao indigitado “diretor de tantas diretorias” que, segundo diziam, sem a competência para qualquer delas. (Divulgação)
Andou por Manaus nos tempos áureos em que se derramavam libras esterlinas para tudo e por todo o canto, segundo consta no imaginário popular, refastelado no poder político e à custa do prestígio de terceiros, inicialmente do tenente Fileto Pires Ferreira, um senhor metido a elegante que atendia pelo nome de José Gayoso o qual, por longo período, andou de cargo em cargo sempre os de maior relevância no serviço público da época, demonstrando competência (falsa), grande opulência e certa truculência.
Ele foi chefe de Polícia, diretor do Diário Oficial do Estado, diretor da Biblioteca Pública, diretor da Instrução Pública, administrador do Correio, diretor do Teatro Amazonas - neste caso, de forma cumulativa com a função de chefe de Polícia -, oficial de gabinete e secretário de governo estadual, cargos exercidos nas Administrações de Fileto Pires Ferreira (1896-1898), Silvério José Nery (1900-1903), Constantino Nery (1903-1906) e na interinidade de Raimundo Afonso de Carvalho (1907). Com todas estas habilidades, como não poderia deixar de ser, tornou-se diretor do jornal vinculado aos interesses dos políticos que o adotaram como coringa: os Nery e Afonso de Carvalho.
Noticiários da imprensa de oposição jamais pouparam agressões verbais ao indigitado “diretor de tantas diretorias” que, segundo diziam, sem a competência para qualquer delas, as exercera por apenas curvar-se ao poderoso amigo que o teleguiava na imprensa política e partidária, assim como nos “casos de governo”, conforme seus interesses momentâneos. Entre uma viagem e outra que costumava fazer com frequência para o Sul e o Nordeste do País, era levado em procissão por grupo de adeptos do seu partido até o cais do porto, não raro com despedidas emocionadas e festivas.
Tido como espião do governador, era chamado de “chaleira”, o mesmo que certa feita foi flagrado atirando para o alto no quintal de sua casa de modo a assustar os vizinhos e saiu dos cargos públicos em 1909, na limpa que Antônio Bittencourt procedeu contra os amigos de Silvério Nery e Afonso de Carvalho e, por isso, foi abandonado pelos próceres do Partido Republicano Federal que o sustentavam no poder e nas estripulias.
Foi abandonado pelo “líder” e, portanto, por todos que o cercavam tecendo loas e cantando vivas a cada coisinha indiferente que dizia, como era comum na corte palaciana da praça dom Pedro II onde se instalara o governo e para a qual acorriam os poderosos para incensar o chefão e os humildes e miseráveis para pedir pão.
Um certo dia, lá pelos idos de 1909, ele precisou sair – quase às pressas – da cidade de Manaus, afastado de todos os cargos e encargos que pensava serem de sua propriedade e, contrário à tradição da época, nenhum dos antigos correligionários compareceu ao seu bota-fora no porto flutuante dos ingleses, ao cair daquela tarde nefasta para a sua memória.
Foi isso mesmo, decaído, nenhum amigo apareceu para as despedidas finais quando embarcou de vez e, ao que se sabe, não mais voltou. Nos primeiros anos estava em todas, principalmente nas festas, banquetes, reuniões políticas e sociais, casamentos e batizados, e sempre era notícia de jornal e destaque no dia de aniversário. Depois, quando abandonado, os mesmos jornais sentaram o pau sem dó nem piedade, a cada dia com uma catilinária maior, revelando verdades ou contando mentiras e coisas do arco-da-velha capazes de franzir o senho de qualquer charlatão.