Por Virgilio Viana, superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável
A tragédia de Petrópolis tem muito a nos ensinar. É mais um sinal de alarme para despertar toda a sociedade brasileira sobre a necessidade de tratar com seriedade e urgência as mudanças climáticas causadas pela ação humana.
Do ponto de vista científico, podemos dizer que o aumento na frequência e severidade de eventos climáticos extremos está diretamente relacionado com as mudanças climáticas globais. A equação é simples: ou nós encaramos de vez o problema ou teremos mais sofrimento humano do que poderíamos ter se não ficássemos parados.
Infelizmente, se seguirmos no padrão atual de poluição da atmosfera da Terra, os eventos catastróficos aumentarão em intensidade e serão cada vez mais comuns. Pesquisas científicas sobre as recentes enchentes na Alemanha apontam para um aumento na frequência de eventos extremos de até 4 vezes com um aquecimento da temperatura média global de 2 graus (hoje estamos com pouco mais de 1 grau de aumento). Em outras palavras, a tendência é piorar. Petrópolis não é um fato isolado, mas sim parte de um processo global que nos apresenta o maior desafio da atualidade.
Por outro lado, podemos manter acesa a chama da esperança. A ciência aponta os caminhos para diminuir o ritmo de aumento na frequência de tragédias como a de Petrópolis. É como se estivéssemos a bordo de um navio como o Titanic, caminhando para uma catástrofe fulminante, e o capitão fosse informado de que, mudando a rota da embarcação, ele evitaria uma mega catástrofe.
É hora de ouvir novamente a mensagem do Papa Francisco, expressa claramente na encíclica “Laudato si’”, que conclama toda a humanidade para uma profunda revolução ecológica. Essa mudança nos padrões de consumo, modos de vida e sistemas de produção é urgente.
São dois caminhos a trilhar: mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O primeiro diz respeito à redução das emissões de poluentes do ar que causam as mudanças do clima. Precisamos urgentemente diminuir o uso de combustíveis derivados do petróleo, gás e carvão mineral. Além disso, é necessário reduzir as queimadas na natureza e na agricultura. No Brasil, temos que diminuir radicalmente os incêndios florestais na Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa. Vale lembrar que a degradação da natureza não contribui apenas com as mudanças climáticas: afeta também a saúde pública, o abastecimento urbano de água, a geração de energia hidrelétrica e a produção agropecuária.
O segundo caminho é a adaptação às mudanças climáticas. Mesmo que façamos a revolução ecológica conclamada pelo Papa e embasada pela ciência, teremos um aumento nos eventos climáticos extremos. A escolha que temos para o futuro é simples: ou teremos um cenário razoável para a vida humana na Terra ou um horizonte catastrófico. Em ambos os cenários, será necessário se adaptar a cheias, secas e ondas de calor e frio mais severas e frequentes. Temos que sair do improviso das emergências para o planejamento de ações estruturais capazes de criar resiliência.
Felizmente, a mesma ciência que nos mostra claramente a raiz do problema nos aponta para as soluções. Precisamos de planos de mitigação e adaptação para o futuro, apoiados por todos os segmentos da sociedade e todas as esferas de governo, com ações de curto, médio e longo prazo.
Esses planos devem ser suprapartidários e capazes de resistir a mudanças de governos. Afinal, o que está em jogo é a possibilidade dos nossos filhos e netos terem uma vida saudável e menos vulnerável a tragédias como a de Petrópolis. Vale lembrar que isso se aplica a todos, pobres e ricos, em todos os países. Estamos no mesmo barco: não existe planeta B, apenas o nosso belo e precioso planeta Terra.
Vamos olhar para a tragédia de Petrópolis como um duro aviso, marcado pelo sofrimento e dor daqueles que perderam a vida, as suas casas e a tranquilidade do sono. Além da necessária solidariedade humana aos impactados pela tragédia, temos que deixar a acomodação de lado e começar a encarar o maior desafio atual da humanidade: as mudanças climáticas.