No próximo sábado, o cortejo sai de Manaus rumo a Parintins com o tema: “Cura Pela Fé - Amazônia”
Cortejo 'Romaria das Águas' foi criado em 2009, na “ilha encantada”, pelo artista renomado do Festival Folclórico de Parintins, Juarez Lima. (Foto: Junio Matos)
Trabalhos de modelagem das esculturas para a Romaria das Águas 2024 entraram na segunda semana, em Manaus. O tema este ano é “Cura Pela Fé - Amazônia” e a jornada sagrada vai partir para Parintins no dia 13 deste mês.
A casa do artista visual e fundador do movimento, Juarez Lima, no bairro Planalto, zona Centro-Oeste de Manaus, se tornou um ateliê para o “nascimento” das esculturas da tradicional Romaria das Águas. No local, dezenas de artistas (a maioria de Parintins) se revezam para tirar o conceito do papel. Este ano, o tema evoca a ligação da fé ribeirinha com a natureza e propõe uma reflexão em busca da proteção do meio ambiente.
A grande homenageada, Nossa Senhora do Carmo, a padroeira de Parintins, retorna para a edição atual com 16 metros de altura. Segundo o diretor de produção e filho do idealizador, Thyago Lima, a proposta da escultura é unir na santa os símbolos da natureza e a fé cabocla. O modelo de teste, uma maquete de aproximadamente um metro, já foi construído e com as medidas proporcionais retiradas a montagem em tamanho real deve acontecer na quarta-feira (10).
A casa do artista Juarez Lima, no bairro Planalto, zona Centro-Oeste de Manaus, se tornou um ateliê para criação das esculturas da Romaria das Águas. (Foto: Junio Matos)
São 15 anos de romaria, mas esta vai ser a quarta edição que o cortejo sai de Manaus até a cidade de Parintins. No dia 12 deste mês, a montagem de toda a estrutura na embarcação vai ser realizada no porto privado de Manaus, no Centro, para que no dia seguinte o trajeto sagrado inicie.
A partida oficial será no píer do Mirante Lúcia Almeida (também no Centro), no local haverá um show para o público. No último ano, a partida foi da praia da Ponta Negra, na zona Oeste, e reuniu cinco mil devotos, segundo Thyago Lima.
Depois que o ferry-boat iniciar o trajeto, são 18 horas e 369 quilômetros até Parintins com Nossa Senhora do Carmo na frente da embarcação, desbravando o percurso.
Nas proximidades do município do interior, mais precisamente no trecho de rio conhecido como “boca do limão”, outras embarcações se reúnem para a romaria até à cidade, acompanhada também pela Marinha do Brasil.
Quinze anos de devoção
O cortejo foi criado em 2009, na “ilha encantada”, pelo artista renomado do Festival Folclórico de Parintins, Juarez Lima. Em uma tarde de janeiro daquele ano, o artista estava no porto do município e viu a silhueta de Nossa Senhora nas nuvens.
Alguns meses depois, em maio, um grande amigo da família Lima, o mestre Jair Mendes, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e se tornou uma das grandes preocupações de Juarez.
Devoto de Nossa Senhora do Carmo, ele afirma ter sonhado com a santa que lhe concedeu três desejos, mas apenas um o interessava, a cura do amigo. À noite, ele se juntou com os filhos e todos rezaram pela melhora do quadro de saúde de Jair.
Quando os amigos se reencontraram, Jair estava em um galpão e para a supresa, de Juarez, estava esculpindo a imagem da santa. Foi quando ele se lembrou do que viu no porto da cidade e teve a ideia de criar a Romaria das Águas.
Por 11 anos ela foi realizada apenas nas proximidades de Parintins, mas durante a pandemia a família Lima foi acometida pela Covid-19. A doença ceifou a vida da esposa de Juarez, dona Irlane Lima, mas o devoto fez outra promessa em nome da saúde dos filhos, que também foram diagnosticados positivamente. A recuperação deles é paga há três anos com a romaria partindo de Manaus, em 2024 será a quarta vez.
Ciclo de fé
Neste ano, um dos frutos da promessa assumiu a organização do cortejo sagrado. Thyago se tornou o principal responsável pela romaria porque Juarez teve um AVC. O pai está com parte do rosto paralisado e não pode exagerar nos esforços físicos.
O diagnóstico veio como um choque para a família, que celebrava conquistas pessoais e profissionais, mas não abalou a semente que germina a essência do festejo: a fé.
Artista e fundador do movimento, Juarez Lima, com a imagem de Nossa Senhora do Carmo ao lado dos filhos (Foto: Junio Matos)
O patriarca se enche de emoção ao relembrar da sensação de impotência provocada pela doença e em poder estar de pé hoje em dia supervisionando o trabalho do filho e dos demais artistas. Vistoriando o trabalho no ateliê, os olhos de Juarez se enchem de lagrimas, mas não são de tristeza, são de orgulho.
Destino
Quis o destino que mais uma vez a família intercedesse pelo mestre Jair Mendes, de 82 anos, internado em uma unidade de terapia intensiva em Parintins por causa de uma broncopneumonia; bem como pela saúde de Juarez. O filho, Thyago, também se emociona pois sente o peso da responsabilidade de assumir a romaria e de tantas pessoas com promessas que contam com o cortejo. Para seguir em frente, ele olha ao pai, perseverante, persistente e devoto.
“É a nossa fé, o poder de intercessão de Nossa Senhora que olha por nós. Isso é algo espetacular” disse Thyago.