A Quarta Fit não poderia deixar esse assunto sem ser esclarecido, então vamos entender o que realmente é isso
(Imagem gerada por IA/Canva)
Se você acompanha páginas online do mundo fitness, da maromba ou do bodybuilding, provavelmente ouviu, na semana passada, sobre a polêmica de um suposto curso para preparar pessoas para atuar como personal trainer em apenas um ano. É isso mesmo. Você não leu errado. E sim, eu compartilhei das mesmas dúvidas que você. “É legalizado?”, “Não precisa estudar educação física?”, “Os profissionais são qualificados?”, etc. A Quarta Fit não poderia deixar esse assunto sem ser esclarecido, então vamos entender o que realmente é isso.
Sobre o curso
Diversas páginas de notícias do mundo da maromba publicaram, na semana passada, cortes de uma entrevista em que Marco Antônio (vulgo “Gorgonoid”, um engenheiro elétrico conhecido por divulgar notícias do mundo fitness e do bodybuilding) conversa com Lucas Ribeiro, um advogado especialista em direito, sobre um suposto curso que deve iniciar em agosto deste ano. Este curso, que deverá ter duração de um ano, promete preparar qualquer pessoa para atuação como instrutor de musculação e personal trainer dentro das academias, tudo de forma legalizada.
Atualmente, para atuar como personal trainer, o profissional deve ter graduação superior em educação física e ter registro ativo no conselho regional do seu estado, como afirma Cristiane Bentes, assessora jurídica do Conselho Regional de Educação Física da 8ª região. “Pela lei 9696/98 só pode atuar como profissional de educação física quem é registrado no conselho e que tenha graduação em curso superior reconhecido pelo Ministério da Educação ou os provisionados [que são pessoas que comprovaram atuação profissional na área de educação física até o advento da lei de 98]. Fora isso, é exercício ilegal da profissão” afirmou a advogada do CREF8, órgão responsável por fiscalizar e registrar os profissionais de educação física dos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima.
Ainda falando de lei
Legalmente falando, será que é possível existir um curso com essa duração e que habilite os profissionais a atuarem nas salas de musculação sem necessidade do diploma de educação física? De acordo com a Lei Geral do Esporte (LEI Nº 14.597, DE 14 DE JUNHO DE 2023), que reconhece e regula a profissão de treinador físico, no parágrafo 2, inciso 2 diz que “o exercício da profissão de treinador esportivo em organização de prática esportiva profissional fica assegurado exclusivamente:
II - aos portadores de diploma de formação profissional em nível superior em curso de formação profissional oficial de treinador esportivo, devidamente reconhecido pelo Ministério da Educação, ou em curso de formação profissional ministrado pela organização nacional que administra e regula a respectiva modalidade esportiva”.
Essa brecha na lei abre margem para interpretação de que se um órgão que regulamenta o esporte bodybuilding no Brasil, como a IFBB, resolver criar um curso de treinador esportivo, reconhecido pelo MEC, pode significar uma alternativa na formação de personal trainer. Mas será que isso seria uma coisa boa? Segundo o presidente do CREF8, Jhonson Furtado, a graduação superior em educação física é indispensável para criar bons profissionais da área.
Jhonson Furtado, presidente do CREF8. (Foto: Junio Matos)
“A educação física foi um dos cursos que mais cresceu nos últimos tempos. A lei geral do esporte vem para formar técnicos na modalidade, não profissionais para trabalhar com a sociedade. O maior bem que você tem é o seu corpo, então você não pode entregar seu corpo a um aventureiro que fez um curso de fim de semana. A graduação dá ferramentas didáticas para trabalhar com crianças, grupos especiais e a função do conselho é levar profissionais de qualidade para atender a sociedade, além de fiscalizar e tirar do meio quem não é profissional”, declarou o presidente.
No que se refere ao mercado de trabalho do personal trainer, houve uma mudança recente e que ainda está em crescimento. Os blogueiros de internet, atletas e ex-atletas diariamente competem pela atenção de seu público para o consumo de seus conteúdos do mundo fitness. Cada vez mais pessoas preferem buscar informações rasas citadas na internet do que procurar um profissional da área para auxiliar.
Conforme o mestre em avaliação e prescrição da atividade física, Odvaldo Marques, o curso de educação física pode acabar se as universidades não reverem suas grades. “Pensando na demanda que existe no mercado atualmente, é preciso se questionar quem irá ministrar esse curso. Em um ano, dificilmente uma pessoa terá habilitação e competência suficiente para atuar no mercado. O curso de graduação de educação física deveriam moldar suas grades para atender esse público específico que tem hoje no mercado. Se as universidades não ajustarem isso, o curso de educação física vai acabar”, ressaltou Marques.
Odvaldo Marques, mestre em avaliação e prescrição da atividade física. (Foto: Junio Matos)
Pegou o código, frangolino? Ainda não se sabe ao certo sobre o início deste suposto curso, sua legalidade, grade curricular, modalidade ou mesmo se ele de fato vai acontecer. Mas uma coisa é certa, se esse curso passar, provavelmente haverá bastante concorrência entre os profissionais da educação física em todo o país. As universidades poderão perder clientes e os personal trainers graduados poderão perder seus alunos para alguém que cobra mais barato. Claro, isso também depende de fidelização de clientes e bom desempenho profissional, que ainda seguem sendo os melhores parâmetros para avaliar um bom profissional.